Teoria proposta em 1859 por Darwin continua a motivar reações de ceticismo em pleno século 21
Por:
Franciane Lovati
Publicado em 30/08/2006
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Atualizado em 05/11/2009
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Quase 150 anos após sua publicação, a teoria da evolução continua fazendo muita gente torcer o nariz. Um estudo recente publicado na revista
Science
mostrou que mais de um terço dos norte-americanos acredita
que o ser humano foi criado por Deus sem passar por qualquer processo
evolutivo. No Brasil, a aceitação das idéias de Charles Darwin não é
muito melhor: uma pesquisa feita em 2004 apontou índices parecidos de
rejeição às idéias evolucionistas. Mas o que leva tanta gente a
contrariar as evidências empíricas da seleção natural em pleno século
21? A
CH On-line
ouviu especialistas no Brasil e no exterior e tenta entender os motivos.
A teoria da evolução
estabelece que todos seres vivos evoluíram de organismos menos
sofisticados ao longo do tempo, o que vai de encontro a crenças
religiosas. Ela é motivo de polêmica desde que foi proposta pela
primeira vez por Charles Darwin (1809–1882) em seu livro clássico
A origem das espécies
, de 1859. Desde aquela época ela sofre críticas ferrenhas,
pois nem todos admitem que os humanos possam ser descendentes de
macacos, bem como que seres vivos tenham surgido de outra forma que não
seja a criação de Deus.
O estudo publicado em 11 de agosto na
Science
mostra que, de 34 países em que a aceitação da teoria da evolução
foi avaliada, os Estados Unidos aparecem na penúltima posição – o teste
também foi feito no Japão e em países da Europa. Em alguns deles, a
“popularidade” do evolucionismo chega a 80%, enquanto nos Estados Unidos
um terço da população diz não acreditar que os seres humanos evoluíram
dos primatas.
O caso do Brasil
Uma pesquisa semelhante foi feita em dezembro de 2004 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os dois
mil entrevistados nas cinco regiões do país, 31% acreditam que Deus
criou o ser humano nos últimos 10 mil anos, da forma como somos hoje;
54% acreditam que o homem vem se desenvolvendo ao longo de milhões de
anos, mas Deus planejou e dirigiu esse processo; 9% acreditam que o ser
humano vem se desenvolvendo ao longo de milhões de anos, mas Deus não
esteve envolvido nesse processo; e 6% não opinaram. Além disso, 89%
deles acreditam que o criacionismo – concepção exposta no livro
Gênesis
da Bíblia, segundo a qual os indivíduos foram criados à
imagem e semelhança de Deus – deve ser ensinado nas escolas.
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Aceitação pública da evolução
em 34 países em 2005. Pediu-se aos entrevistados que dissessem se
consideravam a teoria de Darwin verdadeira ou falsa. O gráfico mostra os
resultados por país, em ordem crescente de aceitação (reprodução/
Science
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Jon Miller, professor da Escola Médica da Northwestern University e um dos autores do estudo publicado na
Science
, ressaltou, em entrevista à
CH On-line
, que o ensino do criacionismo nas escolas pode prejudicar
muito o aprendizado de diversas áreas da biologia. “A maior parte dos
avanços científicos nas próximas décadas acontecerá em áreas biológicas,
como genética e virologia”, afirma. “É impossível aprender os
fundamentos dessa ciência sem ter um bom entendimento da teoria da evolução”.
Para explicar os motivos da baixa popularidade de Darwin
nos Estados Unidos, os autores do artigo argumentam que há naquele país
um fundamentalismo religioso que não existe nos países europeus. Eles
esclarecem que a religião católica e as religiões protestantes européias
enxergam o
Gênesis
como uma metáfora, ao contrário das religiões protestantes
norte-americanas. Muitas pessoas acham que as plantas e os animais
evoluíram, mas não o ser humano. “Os indivíduos acreditam que foram
criados por Deus à sua imagem e semelhança. Nesse contexto, é difícil
aceitar que o ser humano, assim como todos os outros seres vivos, passou
por um processo evolutivo que durou bilhões de anos”, explica Miller.
Educação insuficiente
O biólogo Ricardo Waizbort, da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), defende que no Brasil a pequena aceitação da teoria de Darwin
está diretamente relacionada ao fato de que as pessoas não têm uma
educação científica formal eficiente. “Muitas vezes o cidadão não
compreende o que significa a evolução”,
diz. “Por isso, responde a uma pesquisa desse tipo sem nem entender
porque está sendo perguntado em relação àquilo, o que vai gerar uma
resposta superficial.”
Waizbort recebeu a
CH On-line
na Fiocruz para uma entrevista em que discutiu a aceitação do darwinismo no Brasil. Clique e leia a
íntegra da entrevista
.
Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
30/08/2006
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