terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Hobbits da Indonésia, ainda mais estranhos

Novas análises sugerem ser necessário rever os mais relevantes princípios da evolução humana

Kate Wong
Djuna Ivereigh
O ESTRANHO ESQUELETO de Flores, Indonésia, coloca em questão: qual foi o primeiro ancestral humano a sair da África – e quando? O arqueólogo Thomas Sutikna (à esq.) é um dos líderes da escavação na caverna que abrigava o esqueleto.
Em 2004, uma equipe de cientistas australianos e indonésios que escavavam a caverna de Liang Bua, na ilha indonésia de Flores, anunciou ter desenterrado algo extraordinário: parte do esqueleto de uma mulher adulta que teria pouco mais de 1 metro de altura e o cérebro com um terço do tamanho do nosso. O espécime, conhecido pelos cientistas como LB1, logo recebeu um
apelido criativo – hobbit, em homenagem às criaturas ficcionais de J.R.R. Tolkien. A equipe propôs o espécime LB1 e os outros fragmentos recolhidos como representantes de uma espécie humana desconhecida até então, o Homo floresiensis. Sua melhor suposição era que o H. floresiensis descendia do H. erectus – a primeira espécie conhecida a ter colônias fora da África. A criatura evoluiu para esse tamanho pequeno, supõe-se, como resposta aos recursos limitados disponíveis em sua ilha natal – fenômeno já documentado em outros mamíferos, mas jamais em seres humanos.


A descoberta agitou a comunidade paleoantropológica. Não só o H. floresiensis era o primeiro exemplo de um ser humano que seguia a chamada regra insular, como também parecia ter revertido uma tendência no curso da evolução humana em direção a cérebros cada vez maiores. Além disso, os mesmos depósitos em que se encontraram os indivíduos de corpo e cérebro pequenos também revelaram ferramentas de pedra para a caça e a desossa de animais, bem como resquícios de fogueiras para cozê-los – comportamentos bem sofisticados para uma criatura com o cérebro do tamanho do de um chimpanzé. Surpreendentemente, o LB1 viveu há apenas 18 mil anos – milhares de anos após os nossos outros parentes, o homem de Neandertal e o H. erectus, terem desaparecido [ver “O menor dos humanos”, por Kate Wong; Scientific American Brasil, março de 2005].


Os céticos se apressaram em considerar o LB1 como nada além de um homem moderno com uma doença que afetou o seu crescimento. Desde o anúncio da descoberta, propuseram um enorme número de anomalias possíveis para explicar as feições peculiares do espécime: de cretinismo até a síndrome de Laron, doença genética que provoca insensibilidade ao hormônio do crescimento. No entanto, seus argumentos não conseguiram convencer os proponentes do hobbit, que refutaram cada diagnose com evidências contrárias.
Uma Combinação Surpreendente

Novas análises, contudo, estão fazendo até mesmo os descobridores repensarem aspectos importantes da interpretação original de seu achado. Recentes descobertas também vêm forçando os paleoantropólogos a reconsiderarem as visões estabelecidas sobre alguns momentos decisivos na evolução humana, como a migração inicial da África pelos homininos (o grupo que inclui todos os animais da linhagem humana desde que ela se afastou dos chimpanzés).


Talvez a percepção mais chocante dos estudos recentes é a de como o corpo do LB1 é muito primitivo em vários aspectos. (Até o momento, os escavadores recuperaram os ossos de 14 indivíduos no sítio, porém o LB1 permanece o espécime mais completo.) Desde o início, ele suscitou comparações com Lucy, de 3,2 milhões de anos – a representante mais famosa de um ancestral humano denominado Australopithecus afarensis – por terem mais ou menos a mesma altura e apresentarem tamanho reduzido do cérebro. Contudo, descobriu-se que o LB1 tem muito mais que tamanho em comum com Lucy e outros hominídeos anteriores ao erectus. E várias de suas características são evidentemente simiescas.


Um exemplo especialmente impressionante da morfologia bizarra dos hobbits surgiu em maio passado, quando pesquisadores liderados por William L. Jungers, da Stony Brook University, publicaram a análise do pé do LB1. O pé tem algumas características modernas – por exemplo, o dedão está alinhado com os outros dedos, em vez de se destacar para o lado como nos antropoides e nos australopitecíneos. Contudo, em grande parte, é primitivo. Com cerca de 20 cm de comprimento, o pé do LB1 tem 70% do comprimento de seu fêmur, uma proporção desconhecida em todos os membros da família humana. Em contraste, o pé de um homem moderno tem em média 55% do comprimento do fêmur. Sem considerar os hobbits de pés grandes criados pela imaginação de Tolkien, o bonobo é o animal que mais se aproxima do LB1 nesse quesito. Além disso, o dedão do LB1 é curto, os outros dedos do pé são compridos e ligeiramente curvos, e o pé não possui um arco adequado – todas características primitivas.


“Um pé como esse nunca foi visto antes no registro de fósseis humanos”, Jungers afirmou em declaração à imprensa; ele atrapalharia o ato de correr. As características da pélvis, da perna e do pé deixam claro que os hobbits andavam eretos. Mas, com as pernas curtas e os pés compridos, teriam de dar um passo alto peculiar para impedir os dedos de se arrastarem no chão. Assim, embora ele provavelmente conseguissem correr distâncias curtas – digamos, para evitar se tornar o jantar de um dos dragões-de-Komodo que patrulhavam Flores –, não teriam vencido nenhuma maratona.
Se o pé fosse a única parte do hobbit a exibir traços tão primitivos, os cientistas poderiam manter mais facilmente a tese de que o H. floresiensis é um descendente anão do H. erectus e apenas marcar a morfologia do pé como um revés evolutivo ocorrido em consequência do nanismo. Mas se encontraram características arcaicas em todo o esqueleto do LB1. Um osso no pulso denominado trapezoide, que em nossa espécie tem o formato de uma bota, exibe a forma de uma pirâmide, como no dos antropoides; a clavícula é curta e bem curva, em contraste com a clavícula mais comprida e estreita que ocorre na forma moderna do corpo dos hominídeos; a pélvis tem forma de bacia, como nos australopitecíneos, em vez de ser em forma de funil, como no H. erectus e em outras espécies posteriores ao Homo. A lista não para por aqui.


De fato, do pescoço para baixo o LB1 se assemelha mais a Lucy e a outros australopitecíneos que ao Homo. Porém, surge o fator complicador em seu crânio; embora guarde um cérebro do tamanho de uma toranja, medindo apenas 417 cm3 – volume na faixa dos chimpanzés e dos australopitecíneos –, outras características do crânio, como o nariz estreito e o arco da sobrancelha proeminente sobre as cavidades dos olhos, marcam o LB1 como um membro do nosso gênero, Homo.


Raízes Primitivas
Fósseis que combinam as características do crânio do Homo com traços primitivos no tronco e membros não são novidade. Os espécimes mais antigos de nosso gênero, como o H. habilis, também exibem uma mescla de características novas e velhas. Assim, na medida em que surgiam os detalhes do esqueleto do crânio posterior dos hobbits, os pesquisadores ficaram imaginando se os pequenos habitantes de Flores poderiam pertencer a uma espécie primitiva do Homo, em vez de serem descendentes do H. erectus, que tem proporções modernas, segundo os cientistas.

Uma nova análise conduzida pela doutoranda Debbie Argue, da Australian National University, em Camberra, e seus colegas apoia essa visão. Para tentar resolver o problema de determinar os graus de parentesco dos hobbits com os outros membros da família humana, a equipe empregou a cladística – método que analisa os traços compartilhados e os novos para entender as relações entre os organismos – comparando características anatômicas do LB1 com as de outros membros da família humana, assim como as de antropoides.
Em um estudo ainda no prelo do Journal of Human Evolution, Argue e seus colaboradores avaliam que seus resultados sugerem duas possíveis posições para o ramo do H. floresiensis dentro da árvore genealógica dos hominídeos. A primeira é que o H. floresiensis evoluiu de um hominídeo denominado H. rudolfensis, surgido há cerca de 2,3 milhões de anos, porém antes do H. habilis, que apareceu há 2 milhões de anos. A segunda é que ele surgiu após o H. habilis, mas bem antes do H. erectus, que apareceu há cerca de 1,8 milhão de anos. Mais importante ainda, a equipe de Argue não achou nenhum suporte para uma relação próxima entre o H. floresiensis e o H. erectus, acabando com a teoria de que os hobbits eram produto de nanismo nos H. erectus da ilha. (O estudo também refutou a hipótese de que os hobbits sejam da nossa espécie.)


Se eles eram uma espécie bem primitiva de Homo que antecede o H. erectus, esse
posicionamento na árvore teria de percorrer um longo caminho, considerando-se o cérebro minúsculo do LB1, porque os membros mais primitivos do nosso gênero tinham muito menos massa cinzenta que o H. erectus médio. Mas as descobertas de Argue não solucionam totalmente o problema do cérebro. Deixando o LB1 de lado, o menor cérebro no gênero Homo é o de um espécime de H. habilis com a capacidade craniana estimada em 509 cm3. O cérebro do LB1 era cerca de 20% menor.


Poderia o nanismo na ilha ter desempenhado um papel na determinação do tamanho do cérebro do hobbit? Quando inicialmente a equipe da descoberta atribuiu o cérebro pequeno do LB1 a esse fenômeno, os críticos disseram que o cérebro era bem menor do que deveria ser para um hominídeo de seu tamanho corporal, baseado em relações de escala conhecidas. Os mamíferos que sofrem nanismo normalmente exibem apenas redução moderada do cérebro. Mas resultados do estudo lançados em maio passado sugerem que o nanismo em mamíferos insulares possa ser um caso especial. Eleanor Weston e Adrian Lister, do Natural History Museum de Londres, descobriram que em várias espécies fósseis de hipopótamos que sofreram nanismo na ilha africana de Madagáscar, o tamanho do cérebro diminuiu de forma significativa, mais que o previsto por modelos de escala padrão. Baseados no modelo do hipopótamo, os autores do estudo sustentam que, mesmo em um ancestral do tamanho do H. erectus, as proporções de cérebro e corpo do LB1 seriam concebíveis por nanismo insular.


O trabalho com os hipopótamos impressionou pesquisadores como Daniel Lieberman, da Harvard University. Em um comentário que acompanhou o trabalho de Weston e Lister na Nature, Lieberman escreveu que essas descobertas “vieram em socorro” para explicar como o H. floresiensis ficou com o cérebro tão pequeno.
Embora alguns especialistas favoreçam a interpretação original dos hobbits, Mike Moorwood, da University of Wollongong, na Austrália, que ajuda a coordenar o projeto em Liang Bua, acredita agora que os ancestrais do LB1 e de seu grupo sejam desde o início, ao chegar a Flores, espécimes de Homo pequenos – bem menores que o menor indivíduo de H. erectus conhecido, que “talvez tenham sofrido um pouco de nanismo insular” depois de lá se instalarem.

Os artefatos deixados pelos “hobbits” sustentam a ideia de que o H. floresiensis é um hominino muito primitivo. Os relatos preliminares sobre a descoberta inicial se concentraram nas poucas ferramentas de pedra encontradas nos mesmos níveis dos hobbits em Liang Bua, surpreendentemente sofisticadas para uma criatura de cérebro tão diminuto – observação que os céticos destacaram para sustentar sua hipótese de que os hobbits seriam seres humanos modernos, não uma nova espécie. Mas análises subsequentes lideradas por Mark W. Moore, da University of New England, na Austrália, e Adam R. Brumm, da University of Cambridge, revelaram que as ferramentas dos hobbits eram bem básicas e próximas dos artefatos produzidos por outros homininos de cérebro pequeno. Moore e Brumm concluíram que o pequeno número de ferramentas aparentemente avançadas de Liang Bua foi produzido ao acaso, o que não é surpresa tendo em vista que os hobbits produziram milhares de objetos.


Para fazer essas ferramentas, os hobbits retiravam pedaços grandes de rochas fora da caverna e depois os reduziam a lascas menores dentro da caverna, empregando as mesmas técnicas simples de trabalho em pedra usadas pelos homens em outro ponto de Flores, 50 km a leste de Liang Bua, denominado Mata Menge, há 880 mil anos – bem antes de os homens modernos aparecerem na ilha. (A identidade dos fazedores de ferramentas de Mata Menge é desconhecida, porque nenhum resto humano foi encontrado por ali até agora, embora pudessem ser ancestrais dos minúsculos residentes de Liang Bua.) Além disso, as ferramentas de Liang Bua e de Mata Menge apresentam semelhança surpreendente com os artefatos da garganta de Olduvai, na Tanzânia, que datam de 1,2 a 1,9 milhões de anos atrás e foram feitos pelo H. habilis.


Pequenos, Porém Poderosos

Até certo ponto, a teoria mais recente sobre os enigmáticos ossos de Flores é ainda mais revolucionária que a hipótese original. “A possibilidade de um membro muito primitivo do gênero Homo ter saído da África, talvez há cerca de 2 milhões de anos, e de uma população descendente dele persistir até alguns milhares de anos atrás é uma das hipóteses mais instigantes a surgir na paleoantropologia nos últimos anos”, avalia David S. Strait, da University of Albany. Há muito tempo, os cientistas acreditam que o H. erectus foi o primeiro membro da família humana a sair do continente natal, colonizando novas terras, porque esse é o hominino cujos restos aparecem fora da África nos mais antigos registros fósseis. Como explicação, propôs-se que os homens precisavam desenvolver cérebro grande e membros longos e inventar tecnologia sofisticada antes que pudessem deixar a sua terra natal.
Hoje a mais antiga evidência inequívoca de homens fora da África vem da República da Geórgia, onde pesquisadores recuperaram restos de H. erectus datando de 1,78 milhão de anos atrás (ver “Estrangeiros na nova terra”, por Kate Wong; Scientific American Brasil, dezembro de 2003). A descoberta desses restos georgianos dissipou a noção de um desbravador musculoso com uma caixa de ferramentas incrementadas, pois eram pequenos para H. erectus e produziram ferramentas olduvaienses, em vez dos avançados artefatos denominados acheulenses, que os especialistas esperavam que os primeiros pioneiros fizessem. Mesmo assim, eram H. erectus.

Porém, se os proponentes da nova visão sobre os hobbits estiverem certos, as primeiras migrações intercontinentais ocorreram centenas de milhares de anos antes disso – e por um tipo de homem que, na essência, era diferente. Ele possivelmente tinha mais em comum com a primitiva Lucy que com o colonizador que os paleoantropólogos imaginavam. Esse cenário implica que, se procurarem nos locais certos, os cientistas podem talvez localizar um capítulo da pré-história humana perdido há tempos, na forma de um registro de 2 milhões de anos desse pioneiro primitivo se espalhando entre a África e o Sudeste Asiático.


Alguns pesquisadores, no entanto, questionam essa sugestão. “Quanto mais tentamos empurrar a divergência sobre os homininos de Flores para trás, mais difícil se torna explicar por que uma linhagem [de homininos], cuja origem deve ser a África, deixou um único vestígio na minúscula ilha de Flores”, comenta o especialista em evolução de primatas Robert Martin, do Field Museum de Chicago. Martin ainda não se convenceu que o H. floresiensis seja uma espécie nova legítima.

No seu ponto de vista, a possibilidade de o LB1 – o único hobbit cujo tamanho de cabeça é conhecido – ser um homem moderno com uma anomalia ainda não identificada, que deu origem a um cérebro pequeno, ainda não pode ser descartada. A questão é se essa anomalia também pode explicar o corpo do LB1, semelhante ao dos australopitecíneos.
Enquanto isso, muitos cientistas aceitam de bom grado essa novidade. O LB1 é “um hominino sobre o qual ninguém falaria nada se tivesse sido encontrado na África de 2 milhões de anos atrás”, diz Matthew W. Tocheri, da Smithsonian Institution, que analisou os ossos do pulso dos hobbits. “O problema é que nós o encontramos na Indonésia dos tempos essencialmente modernos.” A boa notícia, acrescenta, é que isso sugere que há mais descobertas a serem feitas.


“Dado o pouco que sabemos sobre o registro hominino na Ásia, há muito espaço para surpresas”, avalia Robin W. Dennel, da University of Sheffield, na Inglaterra. Dennel postulou que os australopitecíneos podem ter deixado a África, porque as planícies que lá colonizaram havia 3 milhões de anos se estendiam até a Ásia. “É evidente que precisamos de mais descobertas – em Flores, em ilhas vizinhas como Sulawesi, da área continental do Sudeste Asiático ou em qualquer outra parte da Ásia”, afirma. Morwood, por sua vez, vem tentando fazer exatamente isso. Além do trabalho em Liang Bua e Mata Menge, está ajudando a coordenar dois projetos em Sulawesi e outro em Bornéu.

Entretanto, a procura pelos ancestrais dos hobbits de Liang Bua no continente será difícil, porque as rochas da idade certa raramente estão expostas nessa parte do mundo. Mas, com tanto em jogo, esses desafios provavelmente não vão dissuadir os intrépidos caçadores de fósseis da tentativa. “Se não acharmos nada nos próximos 15 anos nessa parte do mundo, posso começar a pensar que entendemos tudo errado”, reflete Tocheri. “A previsão é que vamos descobrir muito mais.”
William L Jungers Stony Brook University, Kirk E. Smith

Até hoje, os escavadores recuperaram os restos de 14 indivíduos de Liang Bua, em uma caverna em Flores. O espécime mais completo é um esqueleto denominado LB1, de 18 mil anos. Algumas de suas características lembram as dos antropoides e dos australopitecíneos como Lucy, de 3,2 milhões de anos. No entanto, outros traços são mais próximos aos de nosso próprio gênero,
Homo. Essa mistura de características primitivas e modernas dificultou o cálculo do posto adequado para os hobbits na árvore genealógica do homem.

Traços dos antropoides e dos australopitecíneos
a. Mandíbula inferior forte
b. Pélvis larga e aberta
c. Fêmur curto
d. Tíbia curta
e. Área de Broadmann 10

Traços do Homo
f. Crânio espesso, Dentes pequenos, Rosto curto

O CÉREBRO é do tamanho do de um chimpanzé. Mas uma reconstrução virtual – gerada por ultrassom do interior do crânio – indica que, apesar de seu tamanho pequeno, o órgão tinha várias características avançadas, incluindo uma área de Broadmann 10 ( fig.e) aumentada, parte do cérebro que, de acordo com as teorias, exerce um papel fundamental em atividades cognitivas complexas. Essas características podem ajudar a explicar como uma criatura com o cérebro do tamanho do de um chimpanzé foi capaz de criar ferramentas de pedra.

O PULSO lembra o de um antropoide africano. Em particular, há um osso chamado trapezoide (fig.g) com o formato de pirâmide. Em contraste, os homens modernos têm o trapezoide no formato de uma bota, que facilita a manufatura de ferramentas e o uso da mão, distribuindo melhor a força por todo o órgão.

O PÉ (fig.h) é excepcionalmente comprido comparado com a perna curta. Esse comprimento relativo do pé é comparável ao observado em bonobos e sugere que os hobbits eram corredores pouco eficientes. Outros traços de antropoides incluem dedos longos e curvos e a ausência do arco. Porém, o dedão se alinha com o resto dos dedos, dentre outras características modernas.

Faca do Hobbit
Análises de objetos dos hobbits do período de 95 mil a 17 mil anos atrás indicam que os pequenos ferramenteiros usavam as mesmas técnicas chamadas de oldovienses que os ancestrais humanos na África empregavam há quase 2 milhões de anos. No entanto, os hobbits combinavam essas técnicas de formas diferentes – tradição que os homens modernos que habitavam Liang Bua há 11 mil anos também seguiam. Essa descoberta levanta a intrigante possibilidade de que as duas espécies estiveram em contato e que o H. sapiens copiou o estilo de manufatura de ferramentas dos hobbits, e não o contrário.


Liang Bua é uma caverna grande de calcário localizada nos exuberantes planaltos no oeste da ilha de Flores. Além dos restos de 14 hobbits, as escavações ali já renderam milhares de ferramentas de pedras, bem como ossos de dragões-de-komodo, estegodontes semelhantes a elefantes, ratos gigantes e uma ave carnívora com cerca de 3 metros de altura. Os hobbits parecem ter ocupado a caverna por volta de 100 mil a 17 mil anos atrás. Eles podem ter sido levados a Liang Bua por causa da proximidade com o rio Wae Racang, que teria atraído animais sedentos para a caça. Agora, os pesquisadores buscam pistas para esclarecer por que, após resistirem por tanto tempo, os hobbits acabaram desaparecendo. Também estão ansiosos para recuperar um segundo crânio pequeno, que ajudaria a estabelecer se o LB1 e os outros espécimes representam de fato uma nova espécie e não são apenas os restos de homens modernos que sofreram alguma doença. Os ossos e os dentes contendo DNA adequado para análise seriam igualmente instrutivos.

Os níveis de ocupação dos hobbits em Liang Bua se espalham profundamente em solo úmido.Para impedir as paredes das trincheiras de despencarem, a equipe emprega um sofisticado sistema de escoras.

Dentro do buraco, os membros da equipe tiram a terra camada por camada, com cuidado, expondo ossos e objetos durante o procedimento. Registram a posição de cada objeto de interesse antes de colocá-lo em um saco plástico. Enquanto isso, a terra é colocada em baldes que são mandados à superfície para uma inspeção mais cuidadosa.

Um escavador examina uma costela de Stegodon. A concentração de ferramentas de pedra nesse local indica que os hobbits retiravam a carne do animal lá mesmo.

O sedimento retirado do buraco de escavação é examinado cuidadosamente em busca de pequenos fragmentos de ossos e de artefatos que podem ter passado despercebidos no buraco. Os moradores de Manggarai que trabalham no sítio passam os sedimentos por três estágios:
primeiro são examinados com as mãos, depois passam por peneiras e, por último, são levados balde por balde até a estação montada no campo de arroz fora da caverna. O conteúdo é umedecido antes de ser peneirado de novo, na esperança de recuperar até os menores dentes e fragmentos de osso.


Originalmente os pesquisadores acreditavam que o LB1 e os outros hobbits, conhecidos formalmente como Homo floresiensis, descendiam de um ancestral humano com basicamente as proporções do corpo moderno conhecido como H. erectus , que encolheu drasticamente em resposta aos recursos limitados de sua ilha natal. Mas uma nova análise sugere que o H. floresiensis é muito mais primitivo que o H. erectus e evoluiu logo após um dos membros mais ancestrais conhecidos de nosso gênero, o H. habilis (árvore direita) ou imediatamente depois dele (árvore mais à direita). De qualquer modo, o estudo conclui que H. floresiensis evoluiu na África, junto com outras espécies de Homo antigas, e já era bem pequeno ao chegar a Flores, embora possa ter sofrido de nanismo no local. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Scientific American

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