Paleoparasitologia rastreia origem e evolução de doenças e até migrações humanas
Por: Adriana Melo
Publicado em 09/06/2003
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Atualizado em 05/10/2009
O parasitismo é inerente à vida. Desde o
surgimento da vida, há cerca de 4 bilhões de anos, parasitas são
encontrados em todas as espécies conhecidas. Todo organismo é um
hábitat, uma fonte permanente de alimento e um meio eficaz de reprodução
e dispersão. Reconstituir a história do parasitismo é a tarefa de uma
nova ciência.
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"A paleoparasitologia estuda parasitas em material
arqueológico ou paleontológico. Esses estudos resultam em dados sobre
origem e evolução de doenças
infecto-parasitárias e da relação entre parasita e hospedeiro", explica
Adauto Araújo, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.
Adauto é co-autor de vários artigos publicados em um suplemento especial da revista
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
. Na publicação,
disponível
em inglês
na internet, há 28 artigos
sobre paleoparasitologia, de pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
"Esta é a primeira vez que se publica uma síntese dessa disciplina numa
revista de circulação internacional, e já há demanda para um segundo
número", conta o pesquisador.
No início, a paleoparasitologia se resumia a estudos
esporádicos de coprólitos (fezes fossilizadas) ou múmias com o mero
objetivo de descrever as doenças que acometiam os antigos. O primeiro
impulso para sua evolução foi
dado nos anos 1960, quando história e arqueologia passaram a dialogar
com áreas como paleontologia, medicina humana e veterinária,
epidemiologia, geografia, genética e biologia molecular.
O reconhecimento da importância de se entender a evolução
dos parasitas -- aliado ao uso de modernas técnicas da biologia
molecular, como a reação em cadeia da polimerase (PCR, técnica que
permite fazer análise de DNA) -- permitiu um grande desenvolvimento da
paleoparasitologia nos últimos anos. "Hoje é possível fazer diagnósticos
pela recuperação de DNA de até 10 mil anos atrás", diz Adauto.
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Os coprólitos, principal material de estudo dos paleoparasitologistas, são encontrados em sítios arqueológicos ou paleontológicos, em antigas fossas ou nos intestinos de corpos mumificados. Eles podem conter ovos, larvas e DNA de parasitas internos (endoparasitas), e sua análise permite inferir as condições sanitárias, de higiene e nutricionais dos povos antigos. Já os ectoparasitas (externos) -- como ácaros, piolhos e carrapatos -- são raramente encontrados. Mas podem ser preservados em âmbar ou estar fixados, na forma de lêndeas ou ovos, aos cabelos ou pele do hospedeiro.
As descobertas paleoparasitológicas podem ajudar a
reconstituir o modo de vida de antigas civilizações, já que fatores como
conquista de novos ecossistemas, desenvolvimento cultural, aquisição de
novos hábitos alimentares e domesticação de animais contribuíram para
mudanças na fauna parasitária do homem.
A nova ciência permite até reconstituir as migrações do
homem no passado. "É possível traçar um mapa das parasitoses no passado e
assim avaliar a origem, dispersão e evolução
dessas doenças no tempo e no espaço", diz Adauto. "Podemos saber de
onde vieram e por onde chegaram aos continentes os parasitas e seus
hospedeiros." O futuro da paleoparasitologia é promissor: "Técnicas e
métodos novos estão em desenvolvimento. Não há limites para as
descobertas."
Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
09/06/03
Ciência Hoje on-line
09/06/03
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