sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Grupo acha ancestral terrestre de baleias

Evolução teria levado pequeno mamífero herbívoro a fugir de predadores terrestres e procurar alimentos na água

Descoberta foi feita após cientista quebrar fóssil em acidente: fratura revelou semelhança de ouvido do animal com o de cetáceos

Neoucom/Divulgação
Ilustração criada com base nos restos do animal mostra como ele se movia embaixo d'água


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Poderia um bicho do tamanho de uma raposa e parecido com um veadinho ser um parente próximo das baleias e golfinhos? Não só pode, como é a melhor hipótese até agora para explicar a evolução dos mamíferos marinhos, segundo um estudo de cientistas dos EUA e da Índia publicado hoje na revista científica "Nature".
Para o pesquisador Hans Thewissen, das Universidades do Nordeste de Ohio, EUA, o mamífero extinto que viveu há 50 milhões de anos, conhecido pelo nome científico Indohyus, seria uma espécie de "elo perdido" na evolução dos cetáceos, mamíferos marinhos como a baleia ou o golfinho.
Apesar de esses fósseis serem conhecidos há vários anos, a nova hipótese surgiu graças a um acidente: um técnico de laboratório quebrou o crânio de um Indohyus, na altura do ouvido. Ele mostrou o dano a Thewissen, que ficou intrigado com a espessura do osso, que lembrava o das baleias. Ao reestudar o fóssil, descobriu que, além da estrutura do crânio, duas outras evidências indicavam que o animal passava boa parte do tempo na água -a espessura dos ossos das patas e sua composição físico-química.
"Os ossos são como os de animais terrestres, mas sua espessura é como a dos ossos de hipopótamos, que os ajudam a andar no fundo do rio", declarou Lisa Noelle Cooper, uma das autoras do estudo.

Água à vista
A vida no planeta surgiu no mar e depois passou à terra firme. Os mamíferos aquáticos fizeram o caminho de volta, mas o registro fóssil dessa fase de transição ainda tem falhas.
Thewissen e seus colegas descobriram várias espécies de baleias primitivas na década de 1990 e vêm estudando-as desde então. "Há 40 milhões de anos, as baleias eram semelhantes às de hoje", declarou ele em entrevista gravada e distribuída pela "Nature"; mas basta voltar outros cinco milhões de anos e os ancestrais das baleias passam a ser bem diferentes. Um capítulo antes na história da evolução, esses animais eram semelhantes a crocodilos -tinham patas e viviam em mar raso. Thewissen descobrira o fóssil de uma dessas espécies, a Ambulocetus natans, e anunciado seu achado em 1994.
Outra descoberta da equipe também não lembra nem de longe uma baleia. O Pakicetus attacki, descrito em 2001, lembra uma mistura de porco com cachorro, mas os ossos indicam o parentesco com cetáceos. O fato de ele ser semelhante a um crocodilo e se alimentar de presas capturadas em água rasa aparentemente dava apoio à teoria mais comum sobre a transição da terra para a água. Achava-se que ancestrais das baleias seriam ungulados, animais com casco nas patas.
Estudos com DNA mostraram que, dos animais vivos, os mais próximos das baleias são os hipopótamos -que infelizmente são bem mais recentes na evolução e não revelam muito sobre a transição dos cetáceos para a água.
Os fósseis do Indohyus foram achados na Caxemira, região dividida entre Índia e Paquistão. Esses animais não eram bons nadadores, e seus dentes indicam que eles passavam bom tempo na água -uma hipótese é que, apesar de herbívoros, eles nadavam para escapar de predadores. Passando tanto tempo na água começaram a se alimentar ali também.

Mudança de dieta
"Nós propomos que a mudança de dieta foi o evento que definiu a origem dos cetáceos", escreveram os autores. "Os cetáceos se originaram de um ancestral como o Indohyus e mudaram sua dieta para uma de presas aquáticas", afirmaram.
A hipótese de que o Indohyus seja o "elo perdido" na evolução de baleias e golfinhos promete gerar polêmica -algo muito comum na paleontologia, área de pesquisa em que muitos trabalhos têm de ser baseados em pouca evidências. Por exemplo, Kenneth Rose, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, afirma que as evidências de Thewissen e colegas ainda não são conclusivas. Ele comentou também que um dos traços essenciais usados no estudo, a estrutura do osso do ouvido, é difícil de analisar e parece ser baseado em apenas um espécime.

Fonte: Folha de São Paulo, 20 de dezembro de 2007

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Se realmente este Indohyus for confirmado pela comunidade científica como um ancestral das baleias e golfinhos, acredito que será mais um argumento para fortalecer a ideia da evolução das espécies, pois se compararmos morfologicamente (Por exemplo) este mamífero com os atuais, evidentemente será possível distinguir muitas diferenças entre eles. Está diferença evolutiva pode ter sido consequência da mudança de hábitos na busca pela sobrevivência.


    Leonésia Leandro, 6º período.

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  3. Apesar da grande diferença física, o Indohyus apresenta estruturas semelhantes a de animais aquáticos, mais precisamente a baleia, de fato o que temos de exemplares de espécies com parentescos comuns reforça a teoria evolutiva que norteia todos os estudos relacionados ao surgimento da vida.

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  4. Foi de grande relevançia a leitura desse texto pois é possivel notar as grandes modificações e evopluções existiram e estão em constante evolução.Segundo Darwim em sua dedução as baleias e seus parentes evoluiram de mamiferos quadrupedes e onivoros,ainda que sem qualquer parentesco próximo com os ursos e na verdade esse dois grupos nem são anatomicamente tão diferentes apesar filógeneticamente distantes, os ursos evoluiram de um ramo da familia dos canidios.É fato cientifico que essa evolução existiu e a ciência não para,está em constante movimento.

    Solineide P. da Silva 7º período.

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  5. “As primeiras baleias não pareciam baleias”, diz Thewissen. “Pareciam um cruzamento entre porco e cachorro”. Elas perderam as pernas há 40 milhões de anos. O Indohyus, nesse caso, seria uma forma ainda mais antiga e o hipopótamo, apenas um parente.



    Maria Eunilde

    7º semestre

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