Minúscula e inofensiva, a drosófila
está prestes a completar um século de grandes serviços prestados à pesquisa genética. As homenagens já começaram
Thereza Venturoli
NESTA
REPORTAGEM |
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Quadro:
As conquistas da mosquinha-das-frutas |
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No dia-a-dia, ela não faz mais do que
pairar sobre a fruteira da cozinha. Nem perigo oferece: ela não
devora as lavouras com a voracidade dos gafanhotos, não ataca
em enxames com a ferocidade das abelhas e não propaga epidemias
com a promiscuidade dos mosquitos. Mas essa insignificante existência
de inseto transforma-se em saga quando a mosquinha-das-frutas é
fechada em vidros de cultura nos laboratórios de biologia
e assume sua identidade científica: Drosophila melanogaster.
A partir de então, ela passa a ser uma poderosa aliada da
comunidade científica nas pesquisas sobre como os genes são
transmitidos de uma geração a outra. Elas ajudam assim
a entender a formação, o desenvolvimento e a evolução
dos seres vivos. Como uma única célula se desdobra
em bilhões de outras? Como o organismo já nasce propenso
a determinadas doenças e como evitar o aparecimento delas?
Há quase um século, a drosófila ajuda os cientistas
a obter respostas a essas perguntas. "A biologia baseada na drosófila
continuará ainda por muitos anos a ter impacto direto em
nosso entendimento da saúde humana", escreveu Kathleen Matthews,
pesquisadora da Universidade de Indiana, em artigo de capa da semana
passada da revista Nature Reviews. O artigo abriu a temporada
de homenagens ao centenário da entrada em ação
nos laboratórios da minúscula heroína da ciência.
A drosófila é a sucessora direta
das decantadas ervilhas que Gregor Mendel estudou na segunda metade
do século XIX para estabelecer a idéia básica
da genética moderna: a de que as características de
cada indivíduo são transmitidas de pais para filhos
por "fatores", como os batizou – os atuais genes. Mas o monge
austríaco morreu, em 1884, convencido de que suas leis de
hereditariedade serviam apenas para a plantação no
fundo do quintal. Foi graças ao estudo das drosófilas
que, em 1910, o embriologista americano Thomas Morgan, da Universidade
Colúmbia, percebeu que o surgimento de mutantes ao longo
dos cruzamentos obedecia aos cálculos estatísticos
de Mendel. Morgan descobriu, assim, que as conclusões originais
do pai da genética obtidas com ervilhas valiam para todos
os seres vivos. Mais tarde, ainda trabalhando com drosófilas,
Morgan confirmou a suspeita de que os genes se localizam em cromossomos,
em uma pesquisa que lhe rendeu o Prêmio Nobel. A partir desses
trabalhos pioneiros, a fama das conquistas da mosca entre os cientistas
cresceu (veja quadro). Calcula-se que, em um século de dinastia,
as drosófilas tenham dado motivos – e bons motivos –
para que se escrevessem mais de 100.000 artigos científicos.
Ao lado dos macacos rhesus e dos camundongos,
as mosquinhas-das-frutas fazem parte de uma galeria de animais benfeitores
das ciências biológicas. Roedores e primatas estão
muito mais próximos do homem na escala zoológica,
mas a mosquinha contabiliza inúmeras vantagens como organismo-modelo
em experimentos genéticos. É bem mais fácil
conservar 3 000 drosófilas de 3 milímetros de comprimento
num frasco do que manter numa jaula um único macaco de mais
de meio metro. E é infinitamente mais barato alimentar uma
colônia de drosófilas com as leveduras que surgem sobre
um naco de banana madura do que manter a boa nutrição
de um primata de 8 ou 10 quilos.
Do ponto de vista da pesquisa genética,
as drosófilas também rendem mais. Elas são
tão férteis, e sua gestação é
tão curta, que os cientistas podem acompanhar a evolução
da vida como que num filme em ritmo acelerado. Numa temperatura
amena, entre 22 e 25 graus, as moscas se reproduzem em apenas duas
semanas. No fim da vida, uma fêmea de drosófila terá
gerado uma prole com algo em torno de 1.000 pequenos insetos. Isso
significa que, num único ano, os biólogos podem analisar
25 gerações. Mesmo entre os prolíferos camundongos,
a fêmea pode levar cerca de um mês para dar à
luz uma ninhada de dez a quinze filhotes. Com os macacos, a comparação
é mais distante ainda: nasce apenas um bebê após
uma gestação que pode chegar aos seis meses.
Hoje, sabe-se que mais de 70% dos grupos de
genes que podem desencadear distúrbios no homem têm
equivalentes no código genético do mosquito –
o que faz com que biólogos e farmacêuticos venham recrutando
as mosquinhas para a pesquisa de males como o de Parkinson e o de
Alzheimer. Por isso já há cientistas que se apresentam
como drosofilistas, e por isso também existem "fazendas"
dedicadas a abastecer os laboratórios com linhagens especiais
– por exemplo, de mutantes – dessas minúsculas
cobaias.
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Os avanços genéticos que os estudos de algumas Drosófila podem proporcionar são passos muito importantes para novas descobertas científicas, visto que o ciclo de vida da mesma é relativamente curto, fator que torna possível ao acompanhamento das transmissões genéticas entre essas gerações, além do custo ser bem mais baixo, comparando aos estudos com outras espécies. Espera-se que num futuro bem próximo os pesquisadores já consigam mapear estes genes responsáveis por algumas doenças transmitidas hereditariamente. Este é mais um grande passo dado pela ciência na busca pelo entendimento da vida!!!
ResponderExcluirLeonésia Leandro, 6º período.
Será possível em tempo curto desvendar os mistérios da vida e sua evolução, consequentemente o homem poderá entender como seres simples e complexos garantem sua existência no ambiente. A pesquisa então citada, reproduz de fato como esse estudo pode ser acelerado, as espécies das drosófilas assim como muitas outras serão a base necessária para o estudo das transformações genéticas dos seres vivos.
ResponderExcluirIzabel Carvalho, 6º semestre.
Que bom que a mosca servem pelo menos para ajudar nas pesquisas cientificas, ajudando o homem a desvendar os mistérios da vida e sua evolução, pois isso se restringe as pesquisas, pois não ha inseto mais irritante e nojento.
ResponderExcluirQue interessante esse post, a mosca auxilia no estudo da evolução, pois já que a mosca se reproduz muito rápido se comparado com outras espécies. No entanto, não podemos generalizar o estudo evolutivo a somente uma espécie. Porém, devemos lembrar que esse auxilio no estudo genético é necessário.
ResponderExcluirSegundo o texto e algumas leituras fiquei feliz em saber que a mosca da sopa não é só maléfica,enfim, tem seu beneficio de alguma forma.Como exemplo as drosófilas se alimentam de leveduras em frutos já caídos em início de decomposição, e portanto não causam prejuízo. Esta espécie é um dos animais mais utilizados em experiências de genéticas, sendo dos mais importantes organismos modelo em Biologia. É utilizada em inúmeros estudos genéticos por apresentar cromossomos "gigantes", formados por várias multiplicações dos filamentos da eucromatina.Que a Ciência continue a trazer novas descobertas,e que sirvam de beneficio para a humanidade.
ResponderExcluirSolineide P. da Silva 7º período.
É interessante saber que uma espécie visivelmente tão insignificante, possui um potencial enorme para a evolução, como citado no texto é possível em um ano ser analisadas 25 gerações, por sua fertilidade e curta gestação, auxiliando assim para novas descobertas para o mundo cientifico em buscas de melhorias para o bem estar do ser humano.
ResponderExcluirÈ interessante como seres tão pequenos e de ciclo de vida tão curto ajudam cientistas a entenderem a formação, o desenvolvimento e a evolução dos seres vivos.
ResponderExcluir6º semestre
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito interessante saber que é possível identificar diversas funções importantes ao homem desempenhadas pelas moscas. Desde sua utilização em procedimentos para estudos genéticos até sua atuação como controladoras biológicas de outras pragas, é possível identificar mais organismos benéficos ao homem do que prejudiciais.
ExcluirMaria Eunilde
7º semestre