terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Gênio da selva

As proezas cognitivas e sociais do macaco-prego, como o uso de ferramentas e até uma possível presença de "culturas" variadas, ajudam a repensar a evolução da inteligência animal

Se depender do intrometido Cebus apella o aumento na lista das espécies "cultas" vai ser só a primeira das revoluções. Estudar como e por que o macaco desenvolveu seus talentos pode também ajudar a entender em que circunstâncias a inteligência avançada, a tecnologia e a cultura aparecem numa espécie.
Quase dá para ouvir os acordes de Assim Falou Zaratustra, da trilha sonora do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, quando se olha para o jovem macaco-prego da foto à esquerda, prestes a esmigalhar um coquinho com a ajuda de uma pedra quase tão pesada quanto ele. Tanto no filme quanto na cena flagrada no cerrado do Piauí, um primata descobre o poder surpreendente que o uso de uma ferramenta confere, mas as semelhanças param por aí. Afinal de contas, os macacões do diretor Stanley Kubrick são supostas representações de ancestrais diretos do homem moderno, enquanto os macacos-prego (chamados pelos cientistas de Cebus apella) não passam de meros primatas do Novo Mundo, separados da nossa linhagem lá se vão 40 milhões de anos. Aprender a usar ferramentas não está na lista das habilidades que se esperam deles.

Acontece que as expectativas a esse respeito estão sendo demolidas a cada golpe dos "martelos" de pedra dos pregos, como os íntimos costumam apelidar esses animais. O uso de ferramentas pode ser apenas a ponta do iceberg de uma série de verdadeiras tradições culturais símias, como as que os cientistas já identificaram entre os chimpanzés (Pan troglodytes) e os orangotangos (Pongo pygmaeus). Essas são as únicas espécies do planeta além da nossa que podem se gabar dessa capacidade até agora. Se depender do intrometido C. apella, no entanto, o aumento na lista das espécies "cultas" vai ser só a primeira das revoluções. Estudar como e por que o macaco desenvolveu seus talentos pode também ajudar a entender em que circunstâncias a inteligência avançada, a tecnologia e a cultura aparecem numa espécie.

Essa é a possibilidade que anda empolgando o etologista (especialista em comportamento animal) Eduardo Ottoni e seus colegas do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Desde 2001, quando a equipe publicou seu primeiro trabalho sobre o tema numa revista científica internacional, dados cada vez mais consistentes vêm sendo revelados sobre o uso de ferramentas e outras possíveis tradições culturais entre os pregos. As primeiras observações aconteceram num grupo que vive em semiliberdade no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo, mas já está claro que macacos totalmente selvagens também desenvolvem a técnica. A equipe já deu de cara com as sessões de quebra-nozes em duas regiões diferentes do Piauí: o Parque Nacional Serra da Capivara, famoso pela arte rupestre pré-histórica, e o município de Gilbués, no extremo sul do estado.

Os primeiros relatos do uso de ferramentas pelos pregos no Tietê ajudaram a revigorar o velho interesse de Ottoni pela inteligência primata. Ele conta que tinha pensado em trabalhar com chimpanzés, mas acabou desistindo da idéia por causa da necessidade de sair do Brasil. "Na época, ninguém achava que o Novo Mundo podia ser assim palpitante", afirma. Todo mundo já sabia que, em cativeiro ou laboratório, os macacos-prego dominavam bem rápido a utilização de instrumentos, como em uma experiência clássica em que tinham de extrair melado de uma caixa com furos usando pauzinhos. Mas usar ferramentas espontaneamente, em liberdade, é algo bem diferente.

O grupo que habita o lugar é o equivalente símio de um campo de refugiados: são bichos apreendidos pelo Ibama em blitzes contra o tráfico de animais, com poucas informações sobre região de origem, e seus descendentes, que nasceram lá mesmo. Embora vivam soltos, num pequeno trecho de aterro reflorestado, recebem alimentação dos funcionários do parque. "Aparentemente, o que aconteceu é que, em algum momento, um indivíduo que havia aprendido a técnica no seu bando de origem acabou entrando nessa população", especula Ottoni.

O comportamento é quase uma cópia exata do que se vê entre os chimpanzés: os macacos precisam de uma "bigorna" (uma pedra maior e de superfície mais ou menos plana, que pode estar enterrada no chão, ser um pedaço de calçada ou, mais raramente, também ser selecionada pelos bichos) e de um "martelo" (usado para dar o golpe). "Nossa colega italiana Elisabetta Visalberghi prefere dizer pounding stones, pedras de bater, porque um martelo precisaria ter cabo, mas até aí muitos martelos do Paleolítico também não tinham cabo", brinca Ottoni. O coquinho esmigalhado no Tietê é o da palmeira Syagrus romanzoffiana, e praticamente todo o grupo se dedica à atividade, embora os jovens pareçam fazê-lo com mais freqüência, e os machos adultos se mostrem mais hábeis na técnica.

Além dos Hominóides

O aparente paradoxo evolutivo da situação começava a se delinear. "Uma coisa é você observar um comportamento desses em chimpanzés, que estão tão próximos de nós. Isso pode significar que o uso de ferramentas é um evento perdido lá da história antiga dos hominóides (grupo que inclui os humanos e os grandes macacos, como chimpanzés, gorilas e orangotangos). Agora, se aparece um prego, que divergiu há 40 milhões de anos e faz isso, e toda a bicharada no meio que não faz, você muda a pergunta. Quais são os princípios gerais que levam à evolução desse comportamento?", diz Ottoni.
As coisas estavam nesse pé quando, ainda em 2001, o pesquisador participou de um simpósio de etologia denominado Animal Social Complexity (Complexidade Social Animal), nos EUA. "Ali ficou claro para mim que esse tipo de estudo estava deixando de ser meramente descritivo para ir em busca de modelos gerais", conta. Uma das apresentações mais instigantes, a do bioantropólogo holandês Carel van Schaik, da Universidade Duke (Estados Unidos), dava justamente um passo nessa direção ao propor um modelo tripartite para o surgimento de uma cultura que desenvolva o uso de ferramentas.

Para Schaik, o primeiro requisito, para usar uma analogia com os computadores, é um mínimo de hardware: o cérebro do animal em questão precisa ser complexo o suficiente para que desenvolva esse tipo de comportamento. O segundo elemento é uma dependência pelo menos relativa de alimentos de difícil acesso (castanhas ou coquinhos são o caso mais óbvio), e que exigem algo além do aparato normal de garras ou dentes do bicho para serem devorados. Finalmente, é preciso que a sociedade na qual a espécie em questão está estruturada seja tolerante, permitindo que um animal possa chegar perto do outro e prestar atenção no que o companheiro está fazendo. "É por isso que até agora ninguém observou esse tipo de comportamento entre gorilas, por exemplo, que têm uma força enorme e uma estrutura social no estilo de harém, com um macho dominante perto do qual ninguém chega perto. Um animal desses não vai perder tempo desbastando um galhinho para enfiá-lo num formigueiro em busca de insetos: ele simplesmente arrebenta o formigueiro inteiro", brinca Ottoni.

"Lembro-me de ouvir o Schaik dizendo que, se esses elementos estivessem presentes, até um bicho pelo qual a gente não dá nada, como um primata do Novo Mundo, poderia desenvolver essas características", conta Ottoni. Desnecessário dizer que o etologista brasileiro não perdeu tempo em contar as proezas dos C. apella do parque a Schaik. "Até hoje, ele vive nos citando em seus trabalhos", afirma Ottoni. O modelo, pelo visto, tinha futuro: enquanto o bioantropólogo holandês se pôs a provar que os orangotangos também poderiam ser considerados animais culturais (ver quadro na pág. 31), a equipe da USP começou a estudar o uso de ferramentas e outras possíveis tradições culturais entre os pregos na natureza.

A tarefa de entender o que acontece com os macacos-prego em liberdade é um bocado facilitada pela ampla distribuição geográfica da espécie, que ocupa praticamente toda a América do Sul, em ambientes que vão da Amazônia ao cerrado e à caatinga. "É o vira-latas dos macacos", resume Olavo de Faria Galvão, do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade Federal do Pará (UFPA), que estuda as capacidades cognitivas dos pregos em cativeiro.
E é por causa dessa gama enorme de ecossistemas colonizados pelos bichos que a situação começa a ficar interessante: na Mata Atlântica, por exemplo, nenhum grupo em liberdade parece fazer uso do kit martelo-e-bigorna para abrir cascas duras. Já os grupos piauienses, que ocupam áreas de cerrado bastante secas, são quebradores consumados. "É claro que isso faz todo o sentido: eles vão desenvolver essa técnica onde os frutos duros podem ser um recurso importante, e não na Mata Atlântica, onde os recursos de outros tipos são bem mais abundantes, embora haja uma série de outros problemas", afirma Ottoni.

À primeira vista, a constatação parece até ser uma ameaça à tese cultural, já que meras pressões evolutivas, ao estilo da manjada seleção natural, teriam concorrido para criar o comportamento. Mas o bando do Parque Ecológico do Tietê vai na contramão desse raciocínio: afinal, ali todo mundo ficaria de barriga cheia mesmo que não coletasse ou caçasse, mas o quebra-nozes persiste - como um costume ou modismo que caiu no gosto de todos e se perpetuou sem motivações de sobrevivência. "Talvez haja um elemento de gastronomia naquele local específico, e certamente também há um lado lúdico - a coisa de você ficar batendo pedra, fazendo barulho, tem um apelo para eles", avalia o pesquisador da USP. Como a origem do bando do Tietê é diversificada, é bem possível que um animal de cerrado ou caatinga, recuperado numa blitz, tenha sido o pioneiro que introduziu a tecnologia no parque.

Seja como for, o estudo dos detalhes do procedimento tem sugerido que uma forma de transmissão cultural realmente anda acontecendo entre os C. apella do Nordeste e de São Paulo, além de outros paralelos fascinantes com os chimpanzés. "Uma das coisas é que a gente aprendeu a reconhecer com muita facilidade os sítios de quebra", conta Patrícia Izar, também do Instituto de Psicologia da USP. "Em Gilbués, no Piauí, você vê aquela mesona de pedra que é a bigorna, cheia de restos de sementes e cascas e com o martelo posicionado."

A cena é parecida com os destroços deixados pela atividade incessante dos chimpanzés quebradores de castanhas do Parque Nacional Taï, na Costa do Marfim. Assim como seus primos africanos, os pregos nordestinos parecem trazer suas ferramentas de uma distância considerável: "Não dá para localizar a origem dos martelos em nenhum lugar próximo das bigornas, e eles sobem as encostas onde elas estão já com os martelos nas mãos. Ainda não sabemos exatamente de onde trazem essas pedras, mas parece ser de bem longe", avalia Izar.
Em geral, os bichos jovens aprendem o procedimento em contextos sociais, quando praticamente o bando todo inicia uma sessão de quebra-nozes e os inexperientes se põem a observar os pregos mais especializados. Nessa fase inicial, os pesquisadores já presenciaram coisas engraçadíssimas. Há as crianças que acham que o segredo é o tamanho da pedra e vão atrás de blocos maiores que elas, o recém-chegado que coloca o coquinho em cima do martelo em vez de embaixo dele ou, pior ainda, bate pedra contra pedra sem nem se dar ao trabalho de pegar o coquinho. "Isso realmente faz a gente duvidar se eles estão prestando atenção nos detalhes da técnica e tentando reproduzi-los ou se simplesmente percebem que há uma relação entre bater a pedra e conseguir a comida e ficam tentando de todos os jeitos possíveis até acertar e aprender", afirma Ottoni.

Cérebro de Respeito

APESAR DESSES TROPEÇOS um tanto humorísticos no aprendizado, uma coisa é inegável: poucos primatas podem se gabar de um cérebro tão avantajado em relação ao tamanho do próprio corpo quanto os pregos - para ser mais exato, apenas dois, o próprio Homo sapiens e o chimpanzé. Em geral, a razão entre massa corporal e tamanho do cérebro é considerada uma boa medida do investimento evolutivo que uma espécie fez na inteligência.

Em seu laboratório, Olavo Galvão, da UFPA, tem investigado o que toda essa massa cinzenta pode ser capaz de fazer, com a ajuda de um computador. "Nós chamamos o laboratório de Escola Experimental de Primatas. Cada macaco tem seu próprio histórico escolar", conta o pesquisador. Diante de um monitor de PC com tela sensível (como as que são comuns em caixas eletrônicos de banco), os primatas precisam resolver uma série de problemas cognitivos, recebendo como recompensa, quando acertam, uma pelota de ração sabor banana.

Como em quase todo teste desse tipo com animais de laboratório, a idéia é associar um estímulo (que pode ser visual ou auditivo, por exemplo) com a resposta correta por parte do animal. Assim, cada um dos 16 bichos pode ter de clicar numa letra A e na mesma letra quando ela for exibida novamente; ou fazer uma associação arbitrária entre a letra A e o número 1, ou entre a letra e um sinal sonoro, por exemplo. Em geral, há três opções de resposta na tela. "Com isso, nós conseguimos investigar até que ponto algumas das bases da cognição, como a capacidade de formar classes de equivalência ou de traçar relações arbitrárias, já estão presentes nesses animais, ainda que de forma mais rudimentar", explica o pesquisador.
E parece que esses módulos mentais básicos realmente estão ali, de acordo com os resultados obtidos até agora por Galvão. Os pregos da UFPA têm uma percepção adequada das relações de identidade - sabem que um A tem de ser associado a um A. Conseguem também traçar associações arbitrárias entre estímulos. E, o que é mais curioso, também parecem ter alguma percepção de bidirecionalidade, ou simetria, nas relações arbitrárias - um pouco como a capacidade humana de supor espontâneamente uma causa para um efeito, como alguém que supõe que choveu quando vê o chão molhado.

Claro que os macacos ainda não conseguem fazer nada tão complicado, mas, quando um número foi apresentado a eles de forma desordenada (um 2, por exemplo), eles foram capazes de associá-lo com a letra B sem precisar da seqüência conhecida como muleta. Também percebiam que podiam tanto partir da letra para chegar ao número quanto fazer o caminho inverso. "São capacidades como essas, embora logicamente num grau muito mais elevado, que permitiram o aparecimento da linguagem, por exemplo", afirma Galvão. O estudo de outros macacos sul-americanos também tem sugerido pistas sobre como essa capacidade pode ter dado seus primeiros passos.

Os truques de laboratório são interessantes, sem dúvida, mas parece que é na vida em sociedade que os elementos que forjaram a inteligência dos pregos estão a pleno vapor. Como era de esperar, é uma sociedade tolerante, com grupos que misturam fêmeas, filhotes e vários machos adultos. Contudo, como igualdade completa ia ser mesmo bom demais para ser verdade, Patrícia Izar afirma que é mais correto dizer que há um único homem na casa - o chamado macho alfa, ou dominante. "Dá para reconhecer o alfa de longe e quase de primeira quando você observa o bando. Ele é muito mais musculoso que os outros machos e tem níveis muito mais altos de testosterona", afirma a pesquisadora da USP.

O macho alfa monopoliza sexualmente as fêmeas boa parte do tempo, mas o interessante é que isso não é feito na base da força: são as fêmeas que vão atrás dele quando estão receptivas, seguindo-o de muito perto. "Ele fica completamente blasé; às vezes dá um tabefe na fêmea se ela chegar perto demais e aí ela chora sem parar", diverte-se Izar. É quando mais de uma fêmea do bando está no estro (o período de atividade sexual) que os outros machos arranjam um jeito de copular também. Em geral, as filhas evitam copular com o próprio pai, mesmo quando ele é o alfa.
A cooperação é a regra quando os bichos estão em busca de comida ou cuidando dos filhotes, que às vezes passam de mão em mão entre o bando inteiro. A infância e adolescência prolongadas dos animais, com um período de aprendizagem extenso, lembra o que acontece entre os hominóides e o homem, e talvez seja outro componente importante da inteligência avançada do C. apella.

Foi no ramo da inteligência social, aliás, que surgiu um dos estudos recentes mais polêmicos sobre os pregos. O primatologista holandês Frans de Waal e sua colega americana Sarah Brosnan, ambos da Universidade Emory (EUA), em artigo publicado na prestigiosa revista britânica Nature no ano passado, sugeriram que uma espécie de senso de justiça existiria na espécie (ver ilustração nesta página). Num experimento envolvendo apenas fêmeas, Brosnan levava os macacos a participar de um jogo (ou realizar um trabalho, dependendo da perspectiva) no qual eles trocavam uma pedrinha por uma recompensa dada pelo pesquisador. O presente podia ser uma rodela de pepino, em geral aceita sem problemas pelos bichos, ou uma uva, muitíssimo apreciada por eles.

O truque de Brosnan foi oferecer "salários" diferenciados pelo mesmo "trabalho" - ele dava apenas rodelas de pepino a uma das macacas, enquanto outra só recebia uvas. Depois de certo tempo, a macaca presenteada apenas com pepinos parecia perceber a recompensa muito mais vantajosa da companheira e se recusava a receber a sua, não devolvia a pedrinha ou até atirava o pepino na cara da pesquisadora ou para fora da sala de testes. "Isso nos mostra que os macacos, e talvez outros animais também, não são sensíveis apenas em relação à recompensa que recebem, mas também em relação a como ela se compara com a que os outros estão recebendo. É um senso de \\`justiça\\` num sentido bem restrito, já que tem a ver apenas com a própria recompensa. Normalmente, nós chamaríamos isso de ressentimento ou inveja", afirma De Waal. Para o primatologista, o resultado mostra boa correlação com o que se sabe sobre o comportamento cooperativo dos pregos: "Quanto mais cooperativa uma espécie é, mais ela precisa ficar de olho no que cada indivíduo consegue nas atividades cooperativas. Essa reciprocidade ou ajuda mútua é a base da complexidade social da nossa própria espécie".

Ottoni e Izar não escondem um certo ceticismo quanto à maneira como De Waal e Brosnan explicaram o comportamento dos pregos. "A gente poderia procurar outras explicações. Poderia ser uma mera confusão na aprendizagem associativa, como se o macaco não entendesse por que o outro recebe pepino e eu recebo uva. Ou frustração, como se ele esperasse também receber uva em algum momento, mas só continua vindo pepino", diz Ottoni. Para Izar, a chave pode estar na expressão usada no texto original do artigo da Nature em inglês: "A palavra fairness (justiça) tem mais a ver com a expectativa de um comportamento adequado do que com qualquer senso moral. Bichos que vivem em sociedade, têm ciclo de vida longa e memória que lhes permite reconhecer indivíduos precisam ter alguma percepção de como devem ser as relações sociais, se existe partilha envolvida".
Se o significado preciso da "rebelião sindical" símia ainda é confuso, não resta dúvida de que ainda há muito a aprender sobre a evolução da cultura e da inteligência com a ajuda dos C. apella. Os pesquisadores da USP dizem estar certos de que o uso do kit martelo-e-bigorna é transmitido culturalmente, e começam a identificar o que parecem ser outras tradições do mesmo tipo entre a espécie. Não são necessariamente outros tipos de ferramenta, mas também comportamentos - como o hábito dos filhotes, entre o grupo do Tietê, de brincar de pega-pega com outros filhotes de quatis.

Se a diversidade de ambientes pode influenciar as surpreendentes capacidades dos pregos, Ottoni afirma que o fator crucial parece mesmo ser a sociedade. "Lógico que há a complexidade do mundo físico, mas a do mundo social é muito maior. Sair-se bem em sociedade é extremamente complicado." E, se o processo funcionou para os pregos, pode ter funcionado em muitos outros casos. "Para mim está mais do que claro que, se você dá qualquer chance, esse negócio de cultura acontece. O primeiro passo foi demonstrar isso nos chimpanzés. Mas, afinal de contas, chimpanzé é quase gente", pondera.
 
Fonte: Scientific American  

 

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