segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O BRASIL AOS OLHOS DE DARWIN

Salvador em gravura do livro de Robert Fitzroy, capitão do Beagle: para Darwin, a beleza do casario branco e elegante só perdia para a exuberância da floresta tropical
 
Ao aportar no litoral da Bahia em fevereiro de 1932, na terceira escala de seu périplo a bordo do Beagle, Charles Darwin ficou extasiado com a vegetação à sua frente. Anotou em seu diário: "É uma visão das mil e uma noites, com a diferença de que é tudo de verdade". Era a primeira vez que o naturalista pisava numa floresta tropical. Darwin esteve no Brasil por duas vezes, nos trajetos de ida e de volta de sua viagem de cinco anos. Ao todo, permaneceu cinco meses e meio no país, tempo suficiente para realizar seus estudos e espantar-se com os hábitos dos nativos. A começar pelo Carnaval. Em Salvador, quando viu os foliões tomar as ruas e atirar bolas de cera cheias de água uns nos outros, achou por bem recolher-se à tranqüilidade civilizada do Beagle.
Dois meses depois, o navio chegou ao Rio de Janeiro, então capital do império. No Rio, Darwin foi convidado a conhecer uma fazenda de café no norte fluminense. Antes da viagem, criticou em seu diário a demora das autoridades brasileiras em lhe conceder os documentos necessários para viajar com cavalos. "Mas a perspectiva de ver matas selvagens cheias de belos pássaros, macacos, preguiças e jacarés", ele escreveu, "faz um naturalista até mesmo lamber a poeira das botas de um brasileiro." A excursão durou quinze dias. No caminho, o explorador só conseguiu se alimentar de galinha e farinha de mandioca, este último ingrediente, segundo Darwin, "o mais importante alimento na subsistência do brasileiro".
Na volta ao Rio de Janeiro, Darwin deixou o Beagle e se hospedou num chalé em Botafogo. Andou pela Floresta da Tijuca, foi ao Jardim Botânico e ao Pão de Açúcar e coletou centenas de plantas e insetos. Fez anotações sobre a "falta de educação" dos brasileiros e a forma como a Justiça era feita no país. "Se um crime, não importa quão grave seja, é cometido por um homem rico, ele logo estará em liberdade. Todo mundo pode ser subornado", escreveu. As observações mais contundentes de Darwin sobre o Brasil dizem respeito à manutenção da escravidão e à forma violenta como os escravos eram tratados. Certo dia, inadvertidamente, foi protagonista de um episódio dramático. Um escravo conduzia a balsa na qual ele fazia uma travessia de rio. Tentando se comunicar com ele para lhe dar instruções, Darwin começou a gesticular e a falar alto. A certa altura, sem querer, esbarrou a mão no rosto do negro. Este imediatamente baixou as mãos e a cabeça, colocando-se na posição que estava habituado a assumir para ser punido fisicamente. "Que eu jamais visite de novo uma nação escravocrata", anotou ele ao deixar a costa brasileira.
Com reportagem de Marcio Orsolini
 Fonte: Revista Veja

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